Dois meses após assumir a Nestlé, em meio a uma crise de vendas que vem derrubando a cotação das ações da multinacional de alimentos ao longo do ano, o novo CEO, o francês Laurent Freixe, teve de aproveitar a divulgação dos fracos resultados do terceiro trimestre, nesta quinta-feira, 17 de outubro, para avisar que a Nestlé “não está quebrada” e anunciar uma série de mudanças organizacionais.
A gigante de alimentos suíça reportou um crescimento orgânico nas vendas no terceiro trimestre de 2024 de apenas 1,9%, bem abaixo dos 3,3% previstos pelos analistas.
O resultado afetou as ações da Nestlé, que abriram em queda de 2% nesta quinta-feira no mercado europeu, recuperando-se no fim do dia para aumento de 2,7%. No acumulado deste ano, porém, o recuo é de 15%, sendo 8% desde que Freixe assumiu a empresa, em agosto.
“A Nestlé não está quebrada, está em pleno funcionamento e garantiremos que todo nosso potencial seja realizado daqui para frente”, afirmou Freixe, que está na empresa desde 1986 e liderava a operação na América Latina quando foi chamado para substituir o alemão Mark Schneider, CEO por oito anos da Nestlé.
O fato é que a Nestlé vive uma das maiores crises de seus 158 anos de história. A receita bruta da multinacional recuou 1,5% no ano passado, para US$ 105,5 bilhões, ante US$ 107,1 bilhões no ano anterior.
Este ano, além da queda de vendas, a multinacional suíça enfrentou problemas de tecnologia e um escândalo de purificação de água na França, que levaram à queda do antigo CEO. A Nestlé, que lidera a lista das maiores companhias alimentícias do mundo, tem valor de mercado de US$ 260,73 bilhões (225,63 bilhões de francos suíços).
Freixe afirmou que a Nestlé vai iniciar um novo ciclo. Segundo ele, a percepção dos consumidores em todos os lugares, mas especialmente nos Estados Unidos, é que os preços dos alimentos estão altos.
Essa foi a principal justificativa do executivo para a queda de vendas, o que o levou a revisar a previsão de crescimento da empresa em 2024, que começou em 4% ao ano, caiu para 3% quando o novo CEO assumiu e, agora, foi realinhada para 2%.
“Saímos de um período de alta inflação e o ambiente agora está mais intenso”, assegurou o CEO, citando que os preços gerais caíram 1,1% na América do Norte no terceiro trimestre. Na Europa, porém, alguns dos produtos de café da Nestlé foram retirados da lista por varejistas que resistiram às tentativas da empresa de aumentar os preços.
Isso, juntamente com a fraca demanda dos consumidores, se traduziu em uma queda de 0,3% nos volumes do terceiro trimestre no continente europeu, embora os preços tenham subido 1,4%.
Basicamente, o executivo prometeu uma melhor gestão, assegurando que não há “nada de errado” com as 31 marcas “bilionárias”, com vendas anuais superiores a 1 bilhão de francos suíços: “Temos uma pegada tremenda, somos mais globais e, de certa forma, os mais locais.”
Novo rumo
A estratégia anunciada por Freixe se dará em duas frentes. A primeira, visando a recuperar as vendas e sua participação no mercado global, envolve investir mais em marcas e promover menos inovações de produtos maiores – uma mudança tática também enfatizada por rivais como a Unilever.
As mudanças incluem mais descontos e redução de preços para atrair compradores para seus produtos, que incluem chocolate KitKat, café Nescafé e ração Purina.
Uma área com desaceleração relevante de crescimento tem sido o enorme negócio de petcare da Nestlé – categoria que inclui marcas como Purina e Fancy Feast. A unidade registrou um crescimento orgânico de vendas de 1,3% no trimestre mais recente. Os preços caíram após uma enxurrada de promoções dos varejistas, marcando uma grande mudança em relação aos aumentos de preços que ajudaram a Nestlé nos últimos anos.
A baixa procura por alimentos congelados nos EUA, uma categoria que normalmente atrai grande parte de suas vendas de consumidores de baixa renda, também tem afetado a empresa. A Nestlé disse que a concorrência é particularmente intensa na vertical de pizzas e que mais pessoas estão cozinhando do zero em vez de comprar refeições preparadas.
Outra frente de mudanças anunciadas por Freixe é na estrutura da Nestlé. As cinco unidades globais foram reduzidas a três, cujos comandos passam a atuar na sede da empresa em Vevey, na Suíça, reportando diretamente ao CEO. As mudanças incluem a fusão das unidades da América do Norte e da América Latina e a absorção da Grande China na Zona Ásia, Oceania e África (AOA).
“Acredito firmemente que uma estrutura geográfica menor e mais ágil proporcionará mais velocidade, melhor trabalho em equipe e mais alinhamento”, disse Freixe, que foi sincero quanto às perspectivas da Nestlé. “A demanda do consumidor enfraqueceu nos últimos meses e esperamos que o ambiente de demanda permaneça fraco.”